O mundo não é um Todynho gelado

í€s vezes – e ultimamente de maneira mais seguida do que desejo – fico pálido com observações de pessoas que amo.

Seja no Whatsapp, redes sociais ou blogs, é algo que me deixa cabisbaixo, como o cãozinho que acabou de levar um xingão por pular sobre o sofá (se bem que hoje ele ganha um sopapo ao “não pular sobre o sofá” quando o dono chama, haha).

Acho que é uma nova sí­ndrome chegando, algo envolvendo essa maldita pandemia.

Consigo imaginar certos gurus da informática, espalhados em seus sofazões, controles remotos de TV, ar condicionado, geladeira, cortina etc. tudo a sua disposição.

Um gato Norueguês da Floresta, bem peludo e fofinho encostado ao lado, um Todynho gelado numa mão e um MacBook Pro no colo a escrever artigos.

Dia desses um querido escreveu assim:

O comércio fisicamente fechado pode facilmente funcionar de forma online, ou seja, com um ní­vel mí­nimo de inteligência é possí­vel restaurar a parte saudável da economia. O comércio de produtos sem nota fiscal, sem qualidade, sem garantias é um risco para a sociedade e deve ser eliminado.

Ou seja, o comércio capacitado e honesto pode e deve funcionar normalmente de forma online durante a pandemia. Não existem perdas nem para os funcionários, nem para os clientes. É verdade que cerca de 70 milhões de brasileiros tem conexão precária ou inexistente com a internet.

No entanto, mais de 130 milhões de brasileiros tem boas conexões. É um fluxo suficiente para fazer girar a economia e impedir o colapso do comércio honesto e capacitado.

Ora, pois!

É a experiência de compra!

Não, o comércio fí­sico fechado não migra facilmente para a sua forma on-line.

Não se trata de clicar-comprar-e-levar. Se trata da experiência de compra. Que é aquilo que o comércio de bairro vende.

  • De ir até o açougue e brincar com a turma sobre futebol e comentar que a última costela estava maravilhosa, pra regalo e felicidade do açougueiro.
  • De ir ao shopping e olhar as vitrines, de comparar, de tocar os tecidos das roupas. De experimentar. De sorrir. De tomar um sorvete ao final. De examinar se o aparelho lhe agrada. Verificar se não é vagabundo, daqueles que descascam a moldura.
  • De ir na cachaçaria, conversar com o dono de 80 anos – que imaginamos um expert nos produtos – e perguntar o que aconteceu com a fábrica da Germana, porque não tem mais produto pra comprar etc.
  • De comprar remédios na Drogaraia e agradecer pelas sugestões de descontos que não tem no aplicativo e pelas indicações de remédio para dor-de-cabeça.
  • De ter um olho-na-cara e xingar pelo produto vendido, podendo reclamar e fazer um fiasco na frente de todos, botar aquele horror que nem mesmo um Reclame Aqui conseguiria.

Existem várias dimensões do ato de comprar. Não vou eu apresentá-las. Mas não é à toa que inúmeras marcas possuem suas “lojas modelo” onde o cliente experimenta, toca, discute, reclama, xinga etc. e somente então compra. Via internet.

Aliás, se fosse assim, pra que tanta farmácia pelas esquinas vendendo basicamente commodities? Experiência de compra, conveniência etc.

Tempos de pandemia. Não quero dizer que se deva ficar parado, inerte diante de uma situação assim.

Só não espirro dizendo que “isso é fácil, um mais um e deu“!

Vai mais grana pra vender on-line. Que grana?!

Toma-se a decisão de investir em ambiente on-line e, o principal, divulgar, acaba consumindo uma grana já escassa. Ah sim, precisa de grana pra a) botar no ar a loja e b) mais pra divulgar.

Dá pra usar no Facebook de graça! No Mercado Livre se quiser deixar uma comissão pra ele! Até na Amazon!

Fala sério!! Não é tão simples assim.

Depois de tudo, ainda é necessário publicidade no Google, Instagram, Facebook ou ninguém compra as mercadorias – previamente adquiridas, em estoque etc. Ah, e estudar um pouco SEO (Search Engine Optimization) pra ser encontrado de forma gratuita pelo Google logo no iní­cio das listas. E ah…

Se dá certo o e-commerce, o que fazer com aqueles 20 funcionários da loja que atendiam os clientes? Vai pro saco a “Não existem perdas nem para os funcionários“. Sim, eles perdem. O emprego. E tudo o mais que vem depois. Assistência médica. Grana do aluguel. A mí­sera estabilidade.

“130 milhões de brasileiros tem boas conexões” é uma viagem no Vale Encantado.

Porque eu, que sou de classe B-, não tenho isso. Xinguei a Net durante 30 dias e troquei pelo Vivo Fibra. 30 dias! Se bem que eu não sei direito o que é “boa conexão”. Tudo uma questão de interpretação. Até acabar a franquia de internet do pré-pago?

Sem falar em cartão de crédito pra concluir a compra (aquele povo mais humilde que não tem um porque o banco não é trouxa de liberar algo pra alguém que não tem nem conta em banco!). Mas que o sujeito da loja, PORQUE CONHECE A PESSOA, pode e faz fiado, faz no caderninho etc.

Façam máscaras

Tempos atrás um sujeito sugeriu a todos produzirem máscaras porque seriam necessárias e poderia ser uma forma de sobrevivência a curto prazo. Pobre das costureiras que ouviram o flautista de Hamelin. Quando as malharias perceberam tal mercado, rapidamente mudaram suas máquinas e despejaram máscaras aos milhares com estampas coloridas e divertidas que todas as crianças queriam.

Sem falar na Disney vai lançar máscaras faciais com personagens como o Baby Yoda

A costureira?

Putz, durou 20 dias a empolgação dela.

O custo x valor de venda mal pagava a energia elétrica da máquina de costurar.

Então pra classe A e B eu preciso dizer:

O mundo lá fora não é um Todynho gelado.

Convido essa turma a sair de casa com roupa de astronauta e visitar a periferia (ou nem precisa tanto, o morro do Grêmio onde nasci ou o Jardim Itu Sabará onde me criei).

Verá uma outra realidade. Lá o boteco ou a lojinha da esquina não tem como levar seu negócio pra “internet”. E tentar pode ser mais feio do que tombo com a mão no bolso!

Por mais “fácil” que pareça aos experts do assunto que assistem Black Mirror e dormem entusiasmados com o progresso da tecnologia.

E então?

Mas não se pode ficar parado. Ficar assustado feito guri em cemitério não ajuda.

Porém, também ninguém se iluda com “facilidades” que nem sempre são tão “fáceis” assim.

Beijo a todos

El CO

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