Mansur promove e Cohen detona

Quando os jovens precisam de alguém além de um visionário

Dia desses meu guru e amigo Ricardo Mansur escreveu um artigo no seu blog intitulado Negócio de um centavo, de um milhão ou de um bilhão? Você escolhe.

Mansur é o que podemos chamar da versão moderna do Flautista de Hamelin (pro lado bom, claro). Tento resumir em um único parágrafo a ideia do texto, mas que obviamente você deve ler, seja para concordar ou discordar de mim, seja para ver a capacidade de explanação.

Mansur foi convidado a palestrar para um conjunto de futuros contadores. E incentivou estes universitários a pensarem em novos modelos de negócios.

Provocou-os sugerindo que oferecessem serviços de graça a clientes. Com isso, teriam acesso a um “big data” de dados. O qual, quem sabe, comercializariam da mesma maneira como o Waze faz — esta plataforma oferece o serviço de GPS e dicas de trânsito aos motoristas de forma gratuita e comercializa dados de tráfego para a rede Globo a qual, por conseguinte, informa seus telespectadores.

Isso é lindo.

E um cara de visão como o Mansur sabe para onde caminha a humanidade (e a economia), em traços gerais.

Ele me antecipa situações que se concretizam invariavelmente: há 4 anos mandou juntar dinheiro por que ele faltar, independente do presidente; disse para olhar a economia colaborativa; depois o mundo dos apps, depois…

E essas previsões se confirmam. E, às vezes, parece que ele joga pérolas aos porcos, por que eu não consigo tirar proveito disso.

Por favor persista, primo, uma hora dessas eu engato a marcha 🙂

Mas poucas vezes (sim, ele já esteve!) esteve na pele do empreendedor. Geralmente do investidor.

E a grande desgraça do empreendedor é que este sempre se joga de corpo e alma nos seus projetos.

E pior: está no Brazil.

Explico cada item.

Jogar-se de corpo e alma

Vamos tomar a sugestão aos futuros contadores: façam serviço de graça (e aqui a tecnologia colabora para quintuplicar a eficiência).

Mas quanto tempo levará para formar uma massa crí­tica de dados que alguém se interesse? Seis meses, um ano? Como a start-up sobreviverá até lá? Quem alimentará os funcionários durante o perí­odo de maturação dos dados? Quem pagará horas extras?

Yes, você pode afirmar: os investidores — se o empreendedor conseguir um!!

Mas essa turma exige check-points de progresso. E invariavelmente quando percebe que algo não vai bem, não há constrangimento em defender seu capital e inserir na estrutura da nova empresa profissionais de sua confiança que “colaborarem” para alcance do objetivo. Isso pode ser, entre outras coisas, um controller financeiro que bloqueará o uso indiscriminado de recursos.

OK, ele só estará realizando o plano de negócios proposto. Que geralmente é uma ideia, nem sempre algo estruturado e consciente mês a mês de consumo de recursos.

Existem centenas conflitos entre o empreendedor e o investidor anjo por aí­ para servir como exemplo.

Mas digamos que as coisas funcionem maravilhosamente bem entre todos os envolvidos.

Brazil

impostometroEntão aparece o governo.

Nas suas mais variadas camadas. Impostos, burocracia, legislação (veja o que sofrem o WhatsApp e Uber para funcionar diante de seus conceitos disruptivos).

Em Porto Alegre o Uber está para ser regulamentado. Mas os motoristas precisarão pagar uma mensalidade para a prefeitura, assim como dedicar um percentual do faturamento para ela, assim como fazer um cadastro (nem preciso dizer que precisarão pagar por isso), e… Ughs!

Se uma empresa de tecnologia tem sede em Porto Alegre e realiza algum serviço em Campinas, esta prefeitura exigirá uma série de procedimentos cadastrais para não recolher o ISSQN na fonte pagadora. E pasmem, a de Porto Alegre não vai abrir mão da sua fatura, pois é aqui que a nota fiscal é emitida.

Imagine realizar o cadastro de sua start-up em cada cidade onde exista um cliente para evitar o recolhimento por lá? Iniciar um processo, enviar contas de telefone, fotos, etc. e… Frustração! Sim, exigem procedimentos para evitar isso, mas… Onde foi parar o tesão?!

Aliás, você sabia que para abrir uma empresa SIMPLES é necessário ter alvará de baixo risco emitido pelos bombeiros? Então se você encontra um espaço de co-working em um shopping, você se danou. Por que não terá acesso a um alvará de baixo risco, pois como este tem praça de alimentação e manuseia gás, fogo, etc., o alvará será de médio risco.

Bom, já embolei a questão do Brazil também nos registros.

Não desista

empreendorismoVeja bem, não estou desestimulando o empreendimento.

E a percepção do Mansur é fundamental. E ele é um cara de visão, sabe para onde o mundo (econômico) vai.

Só que o sujeito que entra ou sai da faculdade está cheio de entusiasmo e ideias e, ploft, se depara com coisas inimagináveis (vai SEBRAE nisso, vai SEBRAE nisso).

E nem pense em fechar o empreendimento caso ele não dê certo, pois se Jesus sofreu pra caramba na via crucis, você sofrerá em triplo graças à burocracia existente.

O lance do Mansur é estimular a iniciativa privada no mundo para desatarraxarmos — um pouco — a exagerada dependência da economia do mundo governamental (e veja como o setor de construções e o automobilí­stico estão de maneira umbilical conectado às decisões do governo) e nos tornarmos um pouco mais ágeis.

Provocar a criatividade, os projetos, uma visão diferente de fazer, etc.

Mas preciso dar meu testemunho de empreendedor (28 anos nessa) e lembrar que é preciso um contrato bem afinadinho na hora da formalização da sua sociedade, pois se o seu sócio não aguenta a barra e decide assumir um cargo em concurso público, o desfazimento da empresa (ou da sociedade) pode ser algo doloroso e desastroso.

Lembre-se do que aconteceu com o Facebook e seus sócios tão bem expostos nos filmes e livros a respeito.

Eu poderia tecer um milhão de comentários e, sem dúvidas, resmungar é fácil, difí­cil é fazer o que meu guru sugere.

Talvez por isso somente alguns consigam chegar ao negócio de um bilhão.

lv_cisne_negroOu vale a pensa ler A lógica do cisne negro, em especial o “Capí­tulo 3, o Especulador e a Prostituta”:

Se eu fosse dar um conselho, recomendaria a alguém que escolhesse uma profissão que não fosse escalável! Profissões escaláveis só são boas se você for bem-sucedido: são mais competitivas, produzem diferenças monstruosas e são muito aleatórias, com disparidades imensas entre esforços e recompensas…

Da mesma forma, se trabalha como dentista, você nunca ficará rico em um único dia — mas pode se sair bem em trinta anos de comparecimento motivado, diligente, disciplinado e regular a sessões de obturações. No entanto, se estiver sujeito à especulação baseada no Extremistão, pode ganhar ou perder uma fortuna em um único minuto.

That’s all, folks!

Beijos e breve um novo livro meu.

🙂

EL CO

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