Índia, Índia, Índia…

Hoje li uma reportagem no Jornal do Comércio, seção de Economia / Informática que reproduzo a seguir.

Fala das diferenças do mercado brasileiro e indiano, em termos profissionais.

Índia tem relações trabalhistas flexí­veis

Paí­s vem ganhando espaço no setor de tecnologia, principalmente com terceirização de serviços para potências mundiais

Patrí­cia Knebel

Enquanto no Brasil as empresas de Tecnologia da Informação (TI) sonham com, uma legislação mais flexí­vel, na Índia a liberalidade é quase completa. Talvez seja este um detalhe – junto a tantos outros – para explicar o crescimento que o paí­s vem tendo no setor de tecnologia, principalmente com a terceirização de serviços para grandes potências mundiais.

O modelo trabalhista indiano é praticamente impossí­vel de ser aplicado no Brasil, em função de questões culturais e pela própria estruturação econômica das duas economias. Mas, a expectativa é de que pelo menos alguns exemplos positivos possam ser agregados.

A advogada Lisiane Peccin Pratti, da LB Consultoria Jurí­dica em TI, esteve recentemente na Índia em uma missão empresarial promovida pelo Sebrae-RS que levou empresários gaúchos para conhecer a sistemática da relação entre empresas e funcionários locais.

(Continue lendo, isso é importante para sua cultura)

Um dos maiores diferenciais em relação ao modelo brasileiro é o fato das relações trabalhistas serem definidas através de um contrato de trabalho. No momento da contratação, são definidas as horas de trabalho necessárias, geralmente nove horas diárias. Não existe uma legislação a ser seguida. Também não existem horas extras, férias, 13o e outros benefí­cios largamente usados no Brasil. As empresas indianas têm como obrigação dar 10% do salário de cada funcionário para o governo, para fins de aposentadoria. Já no Brasil, cada colaborador custa em média 80%, entre salários, férias, 13o, adicional de horas extras e tributos.

A polí­tica adotada é de projetos, na qual as equipes vão sendo dimensionadas de acordo com as demandas e dentro dos limites estabelecidos pelo gestor. Não é incomum os funcionários fazerem os próprios horários – desde que cumpram as metas estabelecidas – e mesclarem o trabalho com um mergulho na piscina ou jogos de golfe ou sinuca. Ou, então, ir para casa alguns dias antes do combinado, caso já tenham feito o seu trabalho.

O gerente do International Institute of Information Technology (IIIT-B), Milind Priolkar, diz que operar 24 horas durante sete dias, em projetos on-shore ou off-shore é uma vantagem competitiva impulsionada pela inexistência de direitos trabalhistas e benefí­cios como horas extras, seguro desemprego e assistência médica. A instituição é sustentada pelas grandes indústrias de tecnologia e seleciona os melhores jovens saí­dos de cada faculdade, proporcionando treinamento técnico e também uma visão de negócios.

O presidente do Sindicato das Empresas de Informática do Rio Grande do Sul (Seprorgs), Renato Turk Faria, acredita que esse modelo pode ser positivo para todos, na medida em que há um comprometimento por projetos previamente estabelecidos. Apesar disso, não acredita que possa ser aplicado no Brasil. “Temos um paternalismo muito grande sobre as relações trabalhistas”, diz. Faria cita como pontos positivos a serem analisados os investimentos pesados que são feitos em educação e o fato do governo enxergar nas empresas parceiras importantes no desenvolvimento do paí­s.

Na Índia, assim como acontece no Brasil, há muita oferta de trabalho na área de TI para os jovens, o que de certa forma explica estes incentivos todos. Quando o assunto é a qualificação da mão-de-obra, há menos burocracia para levar para a universidade as tendências percebidas pela indústria. Com isso, assegura-se que as empresas gastem menos em treinamento, na medida em que os jovens chegam praticamente prontos.

Bueno, todo mundo sabe (ou deveria saber) que um monte de serviços que a Índia capta e executa são de outsourcing de Help Desk, por isso a tentação sobre voltar a escrever sobre este tema (ver o post Help Desk na Índia…).

Uma das declarações é do presidente do sindicato das empresas de informática. í? natural que reclame do paternalismo que existe no Brasil. E tem mesmo. Isso derruba uma boa parte da mão-de-obra para o processo informal. Significa ganhar um “por fora”; precisar ser contratado como micro-empresa invés de funcionário; permanecer através de cooperativa. E mais um monte de mecanismos que a criatividade brasileira consegue pensar.

Não vou comentar sobre os indianos. Exceto que eles ganham mal por lá. E que possuem poucos benefí­cios como a própria reportagem esclarece. Fora a enxurrada de novos profissionais no mercado de trabalho que, graças a estes “baixos salários” pagos, conseguem encontrar colocação.

Participo da lista do ISTMF Índia. E os caras são bons. O pessoal de tecnologia entende do assunto e manja de ITIL, por exemplo. São competentes.

Achei graça quando a reportagem diz que podem dar um tempinho e se jogar na piscina, jogar uma sinuca ou coisa assim. Parece que o clima é de Big Brother. Ninguém tem conta pra pagar, eletrodoméstico pra arrumar, sogra pra atender e coisa e tal. Hahaha, idealização não! Claro que eles jogam sinuca e tal. Mas também fazem o que todos nós, seres humanos, fazemos: correm atrás da máquina, por mais ioga que eles façam.

Por outro lado, esse paternalismo brasileiro sacaneia mesmo. Se fosse perceptí­vel o quanto vale a pena pagar imposto… Mas esse dinheiro – generalizadamente – é um saco sem fundos. Aposentadoria? O governo sacaneia reajustando com valores abaixo da inflação. Saúde pública? Hahaha. Segurança e educação? Putz, nem dá pra comentar.

Então o melhor seria para um funcionário não pagar imposto, receber toda a grana e fazer o que quase todo brasileiro de classe média faz: pagar colégio particular, saúde particular, encher de grades as janelas e tal.

Esses dias li que na China as coisas começam a complicar. A super-vantagem da mão-de-obra barata já causa problemas internos. Empresas estrangeiras precisarão pagar benefí­cios-extras aos funcionários. Empresas nacionais não precisarão, hehehe.

Quero escrever que a idéia principal deste post é suscitar reflexões. Pensamentos. Sim, por que nesse corre-corre do dia-a-dia falta até tempo para isso.

Mas também, se não pensarmos, acabamos sendo conduzidos pelos outros. Ou vamos acabar trabalhando na Índia.

Abraços

El Cohen

4 comentários em “Índia, Índia, Índia…”

  1. O CLT é tão caro para as empresas que os colaboradores acabam sendo terceirizados ou estagiários, como eu! O estágio ainda acaba sendo mais utilizado, pois alem de não ter teto mínimo de salário ele ainda acaba desempenhando funções mais pesadas que o próprio funcionário da empresa. Mas o objetivo dele não é estar ali para aprender? Deveria meu caro, deveria…

  2. Salve, Daniel.

    Bom, é alguma coisa do que comentei: a criatividade vai se ajeitando.

    Em Porto Alegre, um estagiário de informática do segundo semestre ganha, em média, R$ 1.000.

    Por que se paga tanto? Por que – conforme citaste – os encargos trabalhistas são altos e o mecanismo de estágio facilita a colocação de mão-de-obra (quase) qualificada nas áreas que precisam.

    Se eu acho que estagiário deveria ganhar pouco? Sim. Ele está lá para APRENDER. Mas com a vida difícil que se leva hoje em dia (PUC pra pagar, aluguel, etc), é natural que, com uma forte demanda, o “passe” até mesmo de estagiários se valorize.

    Nossa função é pensarmos nisso e também no que acontece lá fora.

    Não dá pra bancar o avestruz, enfiar a cabeça dentro da terra e esquecer de tudo que acontece ao redor.

    Quem gosta mais de comparações biblícas: não dá pra bancar Jó, enfiado a dormir no navio enquanto uma tremenda tempestade assola o navio.

    Abrazon

    El Cohen

  3. O Arie de Geus, que trabalhou motius anos na Shell fez um estudo com as 500 maiores empresas da The Economist e chegou a uma concluse3o estarrecedora: metade delas tinha FALIDO 10 anos depois!!!! Mas tinha um reduzidedssimo grupo de 20 empresas que ne3o sf3 ne3o tinha desaparecido como eram empresas com mais de 100 anos de vida!! Resolveu estude1-las para ver se tinham caracteredsticas em comum e descobriu que SIM! Batizou-as (com a juda do Peter Senge) de LEARNING ORGANISATIONS (organizae7f5es que aprendem) e apontou que A PRINCIPAL CARACTERccSTICA DELAS c9 QUE TINHAM UM PROPd3SITO, QUE Nc2O TINHAM O LUCRO COMO OBJETIVO CENTRAL.O Peter Drucker, na mesma linha, cunhou uma frase que adoro: O lucro e9 o oxigeanio das empresas, mas viver e9 muito mais do que respirar! . Existe uma diferene7a sutil, MAS FUNDAMENTAL, entre ter foco no lucro ou no propf3sito. No primeiro caso, e9 o vale tudo que conhecemos. No segundo, o lucro aparece como consequeancia do trabalho bem feito, dos objetivos coletivos atingidos, do reconhecimento, da confiane7a que vocea consegue estabelecer com seus clientes, parceiros e a sociedade.Vamos cada vez mais nesta diree7e3o e acho que este1 corretedssimo o que vocea diz. A rede e as redes ve3o acelerar ainda mais este processo!

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