É meu último artigo sobre o tema. Muita polêmica atrai haters e fazer mal à saúde.
Tive pesadelos em que era escoltado lado a lado.
Meu guru — quem tem um aprende até o final da vida — esclareceu o cheiro de velório no meu recente artigo com visão esclarecedora e salomônica.
Se perdeu, leia os artigos:
- Explodi em Bateu o pânico nas fileiras da ITIL
- Ele foi professoral em Frameworks de TIC morreram?
Sabedoria de Mansur
O artigo do Ricardo Mansur é daquelas leituras que fazem a gente suspirar e exclamar: “OK, o homem está certo, a #T#L não morreu. Só foi morar num LLP (Lar de Longa Permanência, eufemismo para a nomenclatura asilo) de frameworks”.
Mansur lembra que uma governança de TI não se sustenta em liturgia, mas em utilidade – e que processos rígidos sofrem tanto quanto os aposentados tentando cancelar descontos recebidos no INSS (isso é coisa minha).
Independentemente dele citar um artigo de 2017 que desvia o olhar da #I#L para outra questão, o texto do guru — que copiei um trecho a seguir — esclarece aspectos:
Quando as empresas passaram a trabalhar no modelo “como um serviço” e com as plataformas de comercio eletrônico, a organização de TIC que até então suportava o negócio, passou a fazer parte do negócio.
Em outras palavras, a TIC perdeu a sua característica de previsibilidade de longo prazo e herdou a característica de imprevisibilidade que é típica do ambiente de negócios.
Com o fim da previsibilidade de longo prazo, passou a existir no mercado de TIC a percepção de que os frameworks com recomendações detalhadas e processos rígidos não conseguem alcançar a velocidade necessária para produzir as inovações exigidas pela transformação digital e elevado nível de concorrência.
As metodologias ágeis, o avanço do cloud computing, o desenvolvimento iterativo e incremental, o desenvolvimento em componentes e a necessidade de entregar experiências centradas nos clientes remodelaram a forma como os serviços de valor agregado de TIC devem ser entregues e geridos.
Apesar de alguns frameworks conseguirem dialogar com o ecossistema ágil, práticas emergentes e adaptação em vez de imposição de regras, eles ainda são modelos engessados em algumas competências como o gerenciamento de mudanças.
É evidente que os frameworks são relevantes onde existe a necessidade de controle, transparência, previsibilidade, rastreabilidade e conformidade, mas estamos falando de um espaço que está sendo reduzido ano após ano.
Estouros de pipocas
O impacto de meu último artigo foi algo inusitado.
Recebi uma bronca de alguém que considero “adolescente da TI” (com carinho, calma lá, não venha com as pedras novamente). O jovem, com a segurança de quem mal chegou ao baile, disse que eu deveria primeiro “usar a #T#L” antes de criticar. Mal sabia que a conheço desde a versão v2 — e estamos na 4.
A #T#L foi um catecismo corporativo dos anos 2000: processos, catálogos de serviços, gestão de incidentes — uma missa solene. Tipo iPhone 17, todos mundo quer (exceto nós, Android boys).
Especialistas escrevem que as empresas ainda engatinham na implementação da #I#L.
Só que existe há quase 50 anos. Sua complexidade é brutal. São 342 práticas (ou assim parece). Tem corporação que não chega a adotar nem 20 das práticas da Velha Baronesa.
E já tem framework surgindo com aspectos mais suaves: apenas 14 gerenciamentos. E melhor: baseado em Creative Commons Attribution. Você não PAGA NINGUÉM pra usar.
É maravilhoso para as pequenas e médias empresas — fitSM, coisa do semiguru Renê Chiari.
O curioso é que nunca anunciei a morte da #T#L com trombetas apocalípticas. Só identifiquei movimentos de mercado, feito um meteorologista que olha nuvens e diz: chove.
O mercado mudou; nuvem, e-commerce e a glorificação do “as a service” transformaram a TI em parte do negócio (meu guru é f*, depois que escreve, a realidade parece óbvia).
E negócio, como lembra Mansur, é imprevisível: não se gerencia com bula de remédio, mas com experimentação contínua.
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Lembrei de duas coisas que mudarão sua vida:
- Willian Bonner está deixando o Jornal Nacional. Não assisto há uns 10 anos, mas isso deve ser importante.
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Platão
Lá no fundo, a discussão “a #T#L morreu?” é quase uma questão platônica: morreu como dogma, mas sobrevive como hábito.
Continua necessária onde controle e rastreabilidade ainda importam. Mas num mundo de APIs (olha o Zapier e n8N aí) e squads ágeis é difícil encaixar #T#L.
Isso me recorda os filósofos pré-socráticos Parmênides e Heráclito. Um dizia que nada muda. Outro dizia que tudo muda, haha. Sensacional.
Se você pensa que isso é irrelevante, saiba que é bem moderno. Tem gente que diz que “uma vez bandido, sempre bandido” e tem outros que “num contexto adequado, o bandido consegue voltar à sociedade”.
Caos
A maioria dos frameworks surgiu lá atrás pra organizar o caos.
Adriano escreveu caos hoje em Your company doesn’t need another tool. It needs courage.
(Vai saber por que brasileiro escreve em inglês, mas agora ele é europeu)
Já Mansur, aquele que me paga cafés na Ofner e Starbucks (uma excentricidade que tolero desde que depois a gente vá até uma Kopenhagen beber café de verdade) mostrou que frameworks rígidos não acompanham a velocidade da inovação.
Estudar filosofia é legal por que a gente lembra de Marx (não tenha um chilique ao ler esse nome, nem me catalogue como “comunista”, haha):
“A tradição das gerações mortas oprime como um pesadelo o cérebro dos vivos”.
Pois é, os frameworks da década de 80′ se tornaram pesadelos enquadrando nossas vidas em pleno século XXI.
Conclusão
Portanto, meu caro crítico adolescente, não foi desdém, mas constatação.
Mansur, as usual (vejamos se um inglês se enamora), merece aplauso: não decretou o óbito da #T#L, mas mostrou que seu espaço vital encolhe ano a ano.
Quanto aos jovens devotos, que sigam rezando seus processos. Mas leiam mais Voltaire. Mas não menos animes. Em especial Demon Slayer.
Eu, cá do meu canto, continuo descrevendo o clima. Se vai chover ou não, o tempo dirá.
Feito.
Um abrazon
~ Cohen
PS: Chega de polêmicas. Chega de pesadelos. Ou não.