A IA não merece esse nome

Hoje é sexta-feira.

Pra quem me acompanha, sabe que é o Dia do Sextou.

O Baldin propagou o criminoso “Bora lá”. Eu demorei, mas aprendi que essas “adaptações” do idioma português vingam e adotei esse advérbio de tempo relacionado à Sexta-Feira.

Inexoravelmente, beberei uma cerveja. Apenas uma. APA ou IPA.

E sexta aqui no blog é Dia de Esculacho.

Palavra que significa esculhambar, mas tem sua etimologia. Segundo o dicionário, vem do italiano sculacciare: ‘dar palmadas nas nádegas, esp. em crianças’.

Tema de hoje: por que chamar um algoritmo estatístico de IA?

Uma vez que meu guru Ricardo Mansur anda se batendo às turras com os golpes digitais, expondo todo o tipo de ameaça que existe no Brasil e no mundo… e como eu quero fechar os olhos para isso como um dos macacos de “Os três macacos sábios”, passei também a acompanhar Cezar Taurion.

Uma das últimas publicações do Cezar sentava o laço na expressão “Inteligência Artificial” e seu uso indiscriminado pelo mercado, até por questões de marketing.

A publicação pode ser encontrada no Linkedin.

Vou pegar o sóbrio texto dele — enquanto a cerveja não chega — que possui uma pitadinha de sarcasmo/ironia somente no final, para fazer o contrário!

Ironizar de cabo a rabo o tema.

Solta o café por que pode cuspir de surpresa!

A expressão “Inteligência Artificial” é um desses arroubos de marketing que soam como promessa de iluminação e acabam em aula de estatística disfarçada de high tech.

Chamam de “inteligência” um amontoado de regressões que, se muito, sabem prever que pediremos pizza de calabresa ou marguerita.

A tal “inteligência” é tão artificial quanto as plantas de plástico do prédio da minha tia.

Inteligência, de fato, não há; o que existe é um sofisticado encadeamento estatístico com a mesma consciência da torradeira da minha esposa (aparelhinho que suja a bancada da cozinha pra c*).

Mas a palavra vende, e vende muito.

Quantos fornecedores hoje não estão embutindo, às pressas, IA no seu folder, nome ou website?

Também, quem abriria a carteira para financiar/alugar “algoritmos de regressão previsível”?

Antropomorfismo — nova palavra pra você

“A IA aprende”.

“A IA é treinada”.

“A IA mostra o seu raciocínio para chegar ao resultado”.

Isso tudo é antropomorfismo (Houaiss: atribuir características e comportamentos típicos da condição humana às formas inanimadas da natureza ou aos seres vivos irracionais).

E sim, antes que um ser maligno vá remoer meus posts, eu também falo/escrevo isso.

Essa suposta autonomia da IA não passa de obediência a dados e parâmetros escolhidos por mãos humanas — geralmente com pressa. Prompts que não transmitem adequadamente a tarefa, quanto mais o contexto, o formato da saída, exemplos, restrições etc.

Os profissionais passam a acreditar que a máquina tem intenções próprias, quando na realidade só apresenta correlações. Atribuem-se vontades a softwares que não distinguem um gato de uma mesa sem antes ingerir toneladas de dados rotulados. É matemática aplicada.

Aliás, se quer rir um pouco, acompanhe o feed do Taurion.

Diariamente apresenta um resultado estapafúrdio. Desde imagens de presidentes do Brasil até uma pergunta de raciocínio.

Espia essa do ChatGPT 5:

https://www.linkedin.com/in/ctaurion/recent-activity/images/

(Pra quem tem TDAH, olhe a) quem foi João Figueiredo e b) a quantidade de presidentes)

Desfoque do importante

O pior é que essa retórica ofusca os verdadeiros avanços.

Em vez de aplaudir diagnósticos médicos assistidos ou otimizações logísticas que importam, as luzes estão na ideia de um HAL 9000 (você nem sabe quem foi, triste) pedindo férias.

A grande façanha está em automatizar o enfadonho, o chato, o rotineiro.

É mais honesto falar em “Sistemas de Predição Automatizada” ou qualquer sigla burocrática que espante esse misticismo.

Mas, hehe, o marketing prefere “Inteligência Artificial”.

SPA não dá manchete, não encanta investidores e não rende conferência em Sampa ou Vegas.

A verdade, ah como és triste, é péssima vendedora.

No fundo, é estatística e a matemática de Pitágoras e Euclides

No fundo, a indústria sabe que vende fantasia. Não há conspiração, só o eufemismo mercadológico: “Estatística” ninguém compra, “Inteligência” gera manchete.

E assim seguimos hipnotizados pelo truque de marketing.

Não porque a máquina seja inteligente, mas porque nós insistimos em ser tolos — inclusive eu, mas hoje é dia de cerveja e afogarei minhas mágoas e vergonhas numa Chosen — a nova Double Dank IPA que é espetacular!

É mais confortável acreditar em novos deuses do que admitir que se continua dependente de boas e velhas estatísticas.

Aliás, já leu Deuses americanos do Neil Gaiman?

É bem isso, a substituição dos deuses de antigamente — nórdicos, africanos, anglo-saxões etc. — por mais atuais como tecnologia, televisão, cultura pop, globalização etc.

Mas ainda assim, deuses!

C’est fini.

Hoje não faço mais nada.

Exceto se minha jefa mandar. Aí já é outro nível de divino.

Como viver sem uma mitologia?!

Abrazon

EL CO

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *