Uma cilada sutil na medição de produtividade

Ah, nem todos os gansos são brancos!

A frase acima foi inserida pelo meu inconsciente, bichinho ordinário que, se não dou uma canja, fica me tamborilando a cachimônia o tempo inteiro. Chamo-o carinhosamente de “Roberto Carlos” e culpo-o por qualquer ação inadequada. Assim também minha esposa — psicóloga — adotou “Smigol” para responsabilizar por suas mancadas).

Algum motivo há para ela, a a frase dos gansos, ter brotado assim “no mais” dentro de meu cérebro.

OK, voltemos ao tema-tí­tulo; é o que você deseja.

Tenho um amigo, Ricardo Mansur, que parece um cavaleiro solitário — um Dom Quixote? — na batalha pelo foco em estimular as empresas à busca da “madame” produtividade.

mansur e eu

As empresas falam, falam, mas fazem outra coisa. Normal, por que na hora agá de executar o planejamento, vale o que se passa na cabeça do dono da firma. Ou se a empresa é grande o suficiente para escapulir dessa armadilha do paternalismo, resvala no buraco seguinte, o da burocracia.

Quer ler um exemplo de burocracia?

Acertei um treinamento (de um dia) onde a proposta precisou ser traduzida para inglês, o contrato de treinamento também, a autorização foi para o exterior, voltou, o pagamento será autorizado pela matriz, blá-blá-blá. Um valor pequeno (meus cursos são quase todos baratos pelo valor que agrega), mas que a burocracia drenou tempo de todos (fornecedor, contratante, etc.) e assim por diante.

Não estou desdizendo a mesma, tampouco a desvalorizando. Burocracia é sinal de organização. Só não dá pra exagerar, hehe.

Oigalê, que já vou me perdendo como um cego em tiroteio. Isso parece carroça vazia que faz muito barulho, mas não carrega nada, haha. Voltemos ao assunto.

Eu não vou entrar em conceitos como “O Paradoxo da Produtividade” e outras coisas mais complexas. Deixo isso pro Mansur e especialistas.

Exemplos

A ideia da produtividade é fazer mais em menos tempo.

Não é poder trabalhar mais; é fazer melhor, mais eficiente e inteligente (yeah, yeah, muita gente aparecerá com definições diferentes. Essa é a minha). Darei exemplos nos três segmentos econômicos:

  • mecanizacao agronegocioAgropecuária: imagine 30 lavradores há 100 anos preparando a terra com enxadas. Hoje um único sujeito com pequeno trator consegue fazer a mesma área e talvez em menos tempo. Além de tornar o trabalho mais humano, ocorre economia de recursos o que permite entregar um produto final até mais barato. (Não vou entrar no mérito social da coisa, no romantismo, no fato que a mecanização do campo empurrou os pequenos agricultores para as zonas urbanas, pois senão voltaremos a um passado em que teremos estivadores nos portos e iremos abolir o cimento, máquinas de costura, etc.).
  • Indústria: claro, geralmente é a tecnologia quem permite aumentar a produtividade. Um equipamento mais moderno faz um funcionário produzir muito mais do que antes. Mas nem sempre é a tecnologia, pode ser melhoria de processo, por exemplo.
  • Serviços: meu exemplo. Toda vez que fecho um negócio, preciso digitar dados no sistema da prefeitura de Porto Alegre e emitir a nota fiscal eletrônica. Depois, inserir os mesmos dados noutro sistema para emissão do boleto bancário. E ainda tem a carta do Simples Nacional. E o lançamento no sistema de contas a pagar e receber. Ou seja, minha produtividade é uma bosta droga. “— Cohen, por que não pega um ERP de mercado?” e eu lhe responderia qual produto está preparado para tudo isso, incluindo a recente nota fiscal eletrônica de Porto Alegre?

OK, dados os exemplos vamos ao fato.

Delfim Netto

Li hoje (12/08/2015) no Jornal do Comércio do RS uma matéria de Delfim Netto (não vou entrar no mérito do homem em si, se ele participou da ditadura, etc., mas apenas do seu texto) que segue excerto abaixo:

delfim nettoEm 1947, aprovado em concurso público, trabalhei no Departamento de Estradas de Rodagens (DER). Tive a sorte de ser alocado à Secção de Controle de Custos, na oficina central que controlava e providenciava a reparação de milhares de tratores, motoniveladoras, caminhões etc. No tempo em que fiquei no DER, cursava economia na FEA/USP.

Buscar o “máximo de produtividade” era o objetivo do engenheiro-chefe da oficina. Mas como medir a “produtividade” para, depois, tentar “maximizá-la”? A atividade era sazonal (as máquinas vinham para reparação na época chuvosa). Parecia intuitivo medir a produtividade pelo tempo necessário para uma “revisão que as devolvessem ao campo em estado capaz de suportar mais um perí­odo de trabalho intenso”.

A dificuldade de medida era imensa pela diversidade de equipamentos, sem falar de problemas criados pela “situação geral da administração”: absenteí­smo, ní­vel de estoque de peças de substituição, concorrência para serviços especializados de terceiros etc. A solução final que a rigor não media nada, mas impressionava os incautos, foi calcular o “tempo médio de revisão”.

Comparando-o com o número do ano anterior, aproveitava-se a oportunidade para louvar a “boa qualidade da administração” ou apresentar uma boa desculpa: problemas incontornáveis prejudicaram a “boa qualidade da administração”. Aprendi, então, que os membros de qualquer organização (mesmo das empresas privadas) não maximizam nada: acomodam-se conveniente e discretamente num ní­vel de conforto aceitável.

Quando vejo a facilidade com que se afirma a platitude que “a causa básica da queda da taxa de crescimento do PIB é a redução da produtividade do trabalho”, lembro aquela experiência.

A “produtividade da mão de obra” era muito alta na época chuvosa, quando chegavam as máquinas do campo (a demanda na oficina era alta porque elas não estavam trabalhando) e era menor na época seca (as máquinas estavam trabalhando no campo e não havia demanda na oficina). A “produtividade” do trabalho dos operadores das máquinas era, naturalmente, o inverso da “produtividade” do trabalho dos mecânicos da oficina, o que tirava qualquer sentido fí­sico à ideia de “produtividade média do trabalho no DER”.

Resumindo

A quantidade de funcionários é fixa. Em época de chuvas, as máquinas quebram bastante, os mecânicos produzem muito em pouco tempo. Em época de seca, não se usa as máquinas, nada quebra, os mecânicos trabalham pouco, produzem pouco. A produção deles é ridí­cula comparando 60 dias de chuvas versus 60 dias de seca.

livro-metricas-2Você entendeu?

Expliquei essa armadilha no meu livro de Métricas para Help Desk e Service Desk, mas creio que o Delfim esclarece ainda melhor.

Se você trabalha pra caramba pra tudo estar “ouro e fio” em seu ambiente de trabalho, sua produtividade poderá beirar o zero, pois não terá incidentes para lidar.

O que não é ruim, desde que você atenda as VERDADEIRAS métricas do negócio.

Jeff Brandt

Aliás, na última revissupportworld 24ta SupportWorld do HDI Brasil (edição 24, junho/julho 2015) existe uma matéria de Jeff Brandt sobre BYOD onde ele apresenta uma afirmação (ou estatí­stica) do Gartner: os departamentos de TI podem dar suporte a quase três vezes o número de usuários em programas BYOD do que em programas de tablets adquiridos pela empresa.

A empresa pode a) comprar mil tablets ou b) dar suporte para 2.745 usuários de tablets (comprados por cada dono) pelo mesmo preço. Entenderam? É uma questão financeira. Economizam na compra e gastam esses pila com mais gente para dar suporte.

As minhas barbas estão curtas novamente, mas ainda assim é possí­vel colocá-las “de molho” diante dessa afirmação. Parece-me muito mais um cálculo financeiro do que algo que envolva as desgraças correlatas que podem acontecer com cada um trazendo seu próprio dispositivo.

Te entrega…

Existe quem gosta (ou não) de Uber (os taxistas adoraram a tecnologia quando ela trouxe o EasyTaxi, o 99Taxi detonando com as teletáxis, mas quando ela se voltou — ? — contra eles, não gostaram nadicas). A Net anda indignada com a Netflix. A Vivo com o Whatsupp, etc…

Não adianta nada, idem para BYOD, hahaha. É uma questão de ser arrastado ou aproveitar a onda. É uma inutilidade, assim como matar piolhos, mas não matar as lêndeas (os ovos desse inseto).

A minha conclusão é a seguinte:

Siga as dicas do Ricardo Mansur para aumento de produtividade, mas não perca o foco do negócio.

Opa, quase esqueço: venha ao meu curso de 26-27-28-29 de agosto em São Paulo.

Você aprende a aumentar a produtividade do time (talvez até com a presença do Ricardo Mansur) e ainda descobrir onde estão as métricas verdadeiras para o seu negócio.

E ainda leva meus três livros de inhapa:

tres livros

Visite www.4hd.com.br/calendario

Abrazon

EL CO

 

2 comentários em “Uma cilada sutil na medição de produtividade”

  1. Prezado Bob,

    Invadirei o seu treinamento na sexta feira dia 28 de agosto para roubar o vosso saber. O mestre destacou bem. Para medir é preciso ir além de alguns indicadores. É preciso entender o significado do número e sua capacidade de revelar um resultado.

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