Tacocracia ou a pressa enaltecida

“Devagar se vai ao longe” e “Se tem pressa, vá devagar” são dois ditados populares (o segundo, na verdade, é do Saramago) sobre o ritmo desenfreado dos gestores

Sempre que visito algum gestor de suporte, recordo do Coelho Branco do livro Alice no paí­s das maravilhas.

A frase tradicional do leporí­deo é:

– Ai, ai! Ai, ai! Vou chegar atrasado demais!

Aquele cronômetro gigante sempre a recordar do tempo.

Diga aí­ você: na sua área de trabalho existe um gadget do Windows ou do Google exibindo um relógio (confesso: eu tenho, hehehe)?

Eu não vou fazer uma apologia à administração de tempo, mas sim a falta de oportunidade para realizar uma pausa e… PENSAR.

Há sete anos eu encontrei meu momento: ao iniciar o hábito do chimarrão.

Mario Sergio Cortella em seu pequeno, mas impactante livro Não nascemos prontos, registra um capí­tulo para a tacocracia.

Explica que tákhos, em grego, significa rápido. E reclama, ao menos interpreto assim, que estamos migrando para uma tacocracia:

“… na qual a rapidez em todas as áreas aparece como um poder quase despótico e como exclusivo parâmetro para aferir se alguma situação, procedimento ou relação serve ou não serve, é boa ou não.”

Quem não acompanhou o zum-zum-zum sobre as confusões com um final de semana horroroso da empresa aérea GOL? Que isso teria surgido de uma mudança de sistema mal feita. Pressa?!

Os gestores estão sem tempo para participar de cursos e treinamentos, por que existe muuuuuuuuuita coisa para fazer. Alto backlog. Querem receitas práticas de aplicar. Se forem melhores práticas, ótimo. Nesse caso não precisam pensar, pois “são as melhores práticas” e isso encerra qualquer debate.

– Cohen, envia um modelo de catálogo de serviços.”  Nada contra copiar. Comandante Rolim da TAM já dizia: “– Quem não tem inteligência para criar, tem que ter coragem para copiar“.

E nada contra a me pedir. Cada vez que recebo uma consulta, aprendo mais ainda pois preciso pesquisar.  Cada consulta é uma provocação para me “puxar” mais ainda, pesquisar e ir fundo.

Mas gente, vamos processar o conteúdo que recebem. Stop. Think about.

E quando adoto o método socrático? De questionamentos, provocação e instigação para pensar e refletir?

– PQP, Cohen; não pode me passar a coisa pronta e deu?

Tá todo mundo turbinado, a milhão. Pô! Mais devagar.

Quero meu chopp com o Maurí­cio Machado. Quero meu vinho com o Nino Albano. E o almoço com o Mansur. E o Biasoto? Tá, já sei, é uma lista só de homens; e eu sou gaúcho… Mas o mulherio é encolhido e nunca me convidam como esses o fazem.

Cadê a Hetel? Cadê a Neila Franco?!

All right, reconectando…

Aquele gestor ali, no aeroporto checando seus emails no smartphone. E o outro, plugado num modem 3G. E nenhum deles percebendo aquele mulherão passando, ou o senhor com cachimbo, a criança aprontando etc. Katzo!

Há um buzilhão de tempos li o DEVAGAR.

Vários conceitos para aproveitar a vida aqui na terra de maneira mais tranquila, não tão afobada e apressada Quer exemplo, compare um rango num fast-food qualquer e um bom churrasco lá na casa do Cohen, mais vinho ou cerveja, Jorge Ben no microsystem etc.

As ideias do livro são boas; um pouco exageradas em alguns ângulos, mas…

Você pode usá-las em seu benefí­cio.

Selecione um horário mais tranquilo. Ponha um headphone desligado, só pra parecer que está escutando música (assim ninguém vem encher o saco).

E pense.

Pense na sua vida. Pense no seu departamento. Pense em como recompensar sua equipe. Pense em cumprimentar seu chefe pelas pressões que ele suporta. Pense em expressar para a namorada ou esposa que adorou o novo corte de cabelo dela. Pense em tomar coragem e dizer pro seu velho a admiração que tem por ele.

Mas não se deixe absorver nessa correria cotidiana que, ao final da semana, consumiu cinco dias de sua vida.

Profético.

E nem falei de Équidnas (esplêndido e aloprado debate produzido por Nino Albano em seu facebook)

See you, brother.

El Cohen
PS: indo pra casa assar um peixe na churrasqueira

PS: Pressa é eu encontrar hoje o Juliano Statdlober – autor do primeiro livro brasileiro de Help Desk e mentor intelectual do Qualitor – numa esquina e não conseguir nem convidá-lo para um mate ou churras por que tinha um compromisso a seguir. Tá convidado, brother. É só responder aqui no blog.

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