De onde vêm as boas ideias?

Em tempos duros, é bom arquitetar novas ideias e alternativas

Comprei um livro em 2011, mas acabei lendo-o em 2013. Na época, fiz uma sinopse do mesmo aqui no blog: De onde vem as boas ideias de autoria de Steven Johnson. Volto a ele por que os momentos atuais exigem dos gestores invenções de novas formas de ser e também de acontecer dentro dos seus departamentos.

Sim, é preciso evoluir, melhorar, aquele blá-blá-blá todo. Mas isso pode ser feito através de melhoria contí­nua, ajuste de processos, capacitação de equipe, mas… Tudo isso resulta em resultados lentamente progressivos.

Mas (caramba, como uso essa conjunção) não permitem um salto razoável da situação atual para uma próxima. Nada contra os procedimentos que citei, mas em tempos soturnos é preciso algo diferente.

Então resolvi rever minha resenha e transformar em um artigo. Aí­ vai ele…

Introdução

Bem, já comentei antes que na crise é bom ter novas ideias, seja pra ganhar dinheiro, economizar recursos, conceber uma nova forma de fazer e assim por diante. Não continuarei incitando este assunto, se você não bebe champagne no café da manhã com ostras (blearghs!) e caviar, deve estar sentindo necessidade disso.

Steven (o autor, lembra?) cita três ambientes que promovem o surgimento de novas ideias: recifes, as grandes cidades e a WEB.

Nos recifes, não são bem as ideias que surgem, mas variadas formas de vida que se entrelaçam, se ajudam, se prejudicam e resultam em novas formas de acontecer. Nas grandes cidades, o fervilhar de gente, a troca de ideias, o contato constante com colegas de faculdade, de serviço, de metrô, de fretado, de cafezinho, etc. promovem uma colheita de novos conceitos e visões que não terí­amos isolados dentro de um apartamento. A WEB simplesmente transpõe de forma exponencial as cidades para o mundo virtual.

Diz que todos estes fatores permitiram mudar a regra 10:10 (leva-se 10 anos para bolar algo e depois mais 10 para saber onde usar, como o mouse e outras invenções) para 1:1, como foi o caso do Youtube. Um ano desenvolvendo e no ano seguinte já era um sucesso esplendoroso (esplendoroso foi uma viadagem um excesso meu, OK, OK).

Cito a partir de agora os fatores que colaboram para as novas ideias.

O possí­vel adjacente

O bom do livro é que ele, ao iniciar os temas, cita exemplos e depois discorre desta situação.

Uma delas envolve as incubadoras para bebês nascidos de maneira precoce.

Estes aparelhos (custavam 20 mil dólares) eram enviados para a África e, depois de dois anos, paravam de funcionar. Por que não existiam peças de reposição quando quebravam, faltava gente especializada, etc.

Um médico de Boston chamado Jonathan Rosen se envolveu com outro médico e investigaram que coisas funcionavam na região. Perceberam que em ar condicionado não, nem notebook ou tv a cabo, mas…

Os carros Toyota nunca paravam.

E com o que estava adjacente (próximo), conceberam uma nova incubadora feita com peças de automóvel (a parte que mantinha os bebês aquecidos eram os faróis do veí­culo instalados dentro do aparelho). E farol era uma coisa que que os africanos conseguiam consertar com facilidade.

O grande lance para novas ideias não é viver no isolamento, mas juntar mais peças na mesa. É ter uma visão mais ampla em vez de se esconder dentro de uma garagem e planejar o futuro da humanidade (OK, Pink & Cérebro talvez discordassem, mas eles ainda não chegaram lá).

Redes lí­quidas

Um pesquisador chamado Kevin Dunbar cansou de ler biografias ou participar de palestras ouvindo cientistas dizendo como alcançaram seus sucessos e decidiu fazer algo diferente: resolveu observá-los e encheu de câmeras os locais onde estes trabalhavam. E o que descobriu?

As novas ideias não surgiam com um sujeito enfiado de maneira solitária dentro de um laboratório, mas sim no cafezinho, na mesa de reunião e assim por diante. Por que quando se está sozinho, nossas ideias ficam presas a preconceitos iniciais que temos e que nos impedem de julgar, questionar, etc. aquilo que pensamos ou fazemos.

Segundo ele, o que propulsionou o Iluminismo (também conhecido como Século das Luzes e como Ilustração foi um movimento cultural da elite intelectual europeia do século XVIII que procurou mobilizar o poder da razão, a fim de reformar a sociedade e o conhecimento herdado da tradição medieval) foram…

Os cafés ingleses e franceses!

Lá, muita gente se reunia, conversava, debatia, tinha ideias, trocava opiniões e as coisas aconteciam, desde as invenções até novas teorias de filosofia.

Daí­ que vale mais a pena, se for este o objetivo — novas ideias —, sair da sede de sua empresa e se instalar em um ambiente de coworking. Tem seus prejuí­zos (capacidade de concentração, sigilo, etc.), mas por outro lado vão brotar ideias ao realizar a conexão entre uma frase aqui, outro “algo” que você vem pensando e assim por diante.

Intuição lenta

Steven derruba aqueles conceitos e ideias românticas que boas ideias surgem de repente, numa “Eureka”, ou que elas vieram num “flash”, uma lâmpada, uma epifania e assim por diante.

Seu melhor exemplo é contradizer a autobiografia de Charles Darwin que comentou que ao ler uma obra de Malthus, teve a concepção original da Seleção Natural. Um pesquisador foi investigar o caso e descobriu que Darwin mantinha cadernos e mais cadernos de anotações de tudo que pensava e periodicamente relia-os.

Ou seja, era algo que vinha fermentando em seu cérebro e que finalmente se transformou em algo. Mas não subitamente, mas com o passar do tempo.

A mesma coisa foi o surgimento do AdSense e gMail que foram produtos que surgiram naqueles 20% que os funcionários do Google tinham livre para fazer qualquer coisa.

Serendipidade

Nem procura. Não existe este verbete no dicionário de português.

É um daqueles estrangeirismos (Gilete, Xerox, etc.) que acabará se tornando parte do idioma nacional. Mas tem na Wikipedia:

Serendiptismo ou ainda Serendipitia, é um anglicismo que se refere às descobertas afortunadas feitas, aparentemente, por acaso. A história da ciência está repleta de casos que podem ser classificados como serendipismo. O conceito original de serendipismo foi muito usado em sua origem.

Agora um excerto do livro:

A LÍNGUA INGLESA é abençoada com uma palavra maravilhosa que exprime o poder da conexão acidental: “serendipity”. Cunhada pelo romancista inglês Horace Walpole em uma carta escrita em 1754, a palavra provém de um conto de fadas persa intitulado “Os três prí­ncipes de Serendip”, cujos protagonistas estavam “sempre a descobrir, por acidente e sagacidade, coisas que não procuravam”.

O romancista contemporâneo John Barth descreve isso em termos náuticos: “Você não chega a Serendip traçando um caminho para lá. Tem de partir com convicção para outro lugar e perder o rumo serendipitosamente.”

Mas a serendipidade não é apenas uma questão de abraçar encontros fortuitos por puro deleite. Ela é feita de felizes coincidências, sem dúvida, porém o que as torna felizes é o fato de a descoberta ser significativa para quem a fez.

A serendipidade completa uma intuição ou abre uma porta para o possí­vel adjacente que não haví­amos percebido.

O autor diz que graças à WEB, agora está mais fácil “tropeçar” em algo que proporcione uma solução ou continuidade ou linha de pensamento para algo que estamos enfrentando.

Aliás, ele diz que “o sonho é a sopa primordial da mente”.

Erro

Não descreverei este item.

As empresas buscam ao máximo evitar erros e, com isso, impedem o surgimento de novas ideias. A história está repleta de descobertas que aconteceram como resultado de erros, como essa da invenção do princí­pio fotográfico e do marca-passo:

Na década de 1830, Louis Daguerre passou anos tentando arrancar imagens de placas de prata iodadas. Certa noite, após mais uma tentativa inútil, ele guardou as placas num armário cheio de substâncias quí­micas; na manhã seguinte, para seu assombro, viu que as emanações do mercúrio derramado de um frasco haviam produzido uma imagem perfeita na placa — nascera o daguerreótipo, o precursor da fotografia moderna.

Um dia, ao trabalhar com o aparelho, Greatbatch pegou por acaso o resistor errado. Quando o ligou ao oscilador, este começou a pulsar num ritmo familiar. Graças ao erro de Greatbatch, em vez de registrar os batimentos de um coração humano, o aparelho estava simulando-os. Lembrou-se então da conversa na fazenda cinco anos antes. Ali estava o começo de um dispositivo que poderia restaurar o sinal defeituoso de um coração irregular, enviando-lhe pulsos elétricos que o forçariam a bater a intervalos precisos.

Exaptação

Também não existe no dicionário, mas é um empréstimo de ideia dos biólogos evolucionários:

Exaptação é uma adaptação biológica que não evoluiu dirigida principalmente por pressões seletivas relacionadas à sua função atual. Em vez disso evoluiu por pressões seletivas diferentes relacionadas a uma adaptação para outras funções, até que eventualmente chegou a um estado ou construção em que veio a ser utilizada para uma nova função.

Examine a pena de uma ave.

Originariamente surgiu para regular a temperatura do animal. Só que lá pelas tantas, um deles resolveu dar uma planada — vai saber por que — e as penas ajudaram a controlar o fluxo de ar. E assim essa adaptação foi evoluindo até termos aves de rapina voadoras bem velozes (e ferozes).

A “roubada” do conceito biológico pode ser visto nas antigas prensas de uva dos viticultores alemães. Gutemberg olhou aquilo e achou que era uma boa ideia para imprimir livros.

A WEB nasceu para compartilhar páginas HTML, mas hoje se adaptou para e-commerce, compartilhamento de fotos e até pornografia.

Plataformas

Um castor faz uma represa para se proteger de seus predadores. Porém, esse ambiente propicia também a criação de um espaço para que martins-pescadores (uma ave, uma ave, não fique pensando naquele seu primo de sobrenome Martins), libélulas e besouros busquem seu sustento. É um ecossistema que surge.

Veja o exemplo do surgimento da algo que muita gente usa.

Dois sujeitos descobriram que podiam usar um método para saber onde estava o satélite Sputnik. Por pirraça.

Um dia seu chefe perguntou se podiam fazer o contrário: a partir da localização do Sputnik, saber onde estava um objeto no chão. E sim, descobriram como.

E isso serviu para saber onde estavam seus submarinos nucleares. Na era Reagan, os EUA liberaram essa tecnologia que se trata do quê?

O GPS!

E veja quanta coisa funciona em volta desse ecossistema. E no seu bolso (seu smartphone lhe permite saber as melhores rotas para chegar em casa, onde tem uma pizzaria, onde estão seus amigos, controle de drones e muito mais).

Conclusão

Venha para as grandes cidades.

Se você é um nerd, não vai ter grandes ideias se ficar enfiado 24 horas na frente de um computador.

Claro, programar ou configurar um servidor dá um tesão muito grande, mas colabora para insights da mesma maneira que as feras cosmopolistas que trabalham em co-working, que frequentam cafés, etc. conseguem.

Salvo se você frequentar “salas de chat” (hahaha, essa eu quis usar para demonstrar minha idade, por que não ia escrever “salas do mirc”, kkk).

Outra boa maneira é frequentar meus cursos de Gestão de Serviços para Help Desk e Service Desk. Você encontra diferentes gestores com diversas realidades e…

Vai que lá rola uma solução para um problema seu?

www.4hd.com.br/calendario

Abrazon

EL CO

Bônus

Assista a palestra proferida por Steven no TED (com legendas em português):

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