Da minha (péssima) experiência com o patinete verde

Ainda me faltam alguns anos para chegar aos sessenta.

Mas a famí­lia, preocupada, ordenou que passasse a me exercitar. Então, contrariando as leis da fí­sica e da biologia, caminho 90 minutos três vezes por semana.

Meu apartamento fica no alto de um morro. Daqui se enxerga o aeroporto Salgado Filho, a gloriosa Arena do Grêmio, o Rio Guaí­ba e tal.

Mas quase tudo na vida é um cobertor curto. Saberá o porquê mais adiante.

Desço faceiro a colina rumo ao parque Moinho de Ventos.

No circuito que que percorro, bancos espalhados tentam me seduzir “Se senta, Robertinho”. Mas aguento o tranco por 90 minutos.

O problema é…

A volta. Ela é angustiante. Um calvário. Um martí­rio.

Tudo que desci preciso subir. E pior, cansado. E é alto esse morro desgraçado.

Pensei em ir com minha scooter (ela tem 70 km e três meses de idade). Mas isso seria uma decisão ordinária de quem busca o amém da famí­lia para beber uma garrafa de vinho toda noite com a esposa (já ela não carece de autorização; chefe é chefe e diz que não vai se exercitar).

Então… Não há mal que dure para sempre.

Surgiram os patinetes coloridos ao redor e dentro do parque. Deve ser fácil operar, a criançada circula para lá e para cá com os bichinhos. Aliás, criaturas preguiçosas por que na minha infância eles não tinham motor.

Então a decisão: voltarei de patinete para casa.

Da experiência

Baixei o aplicativo dia 11 de março. Examinei, fucei e não encontrei ajuda sobre como usar.

Youtube? Nhecas de ajuda até este momento (onde acelera, onde freia, como desiste da corrida, etc.). Nem no site oficial.

Lá pelo dia 26, abarrotado de vergonha, informei meu cartão de crédito e desci os Altos da Mariland aparelhado de óculos. Caminhei os meus quilômetros.

E chegou o momento.

Aproximei-me de um bando de patinetes que conversavam amigavelmente sob uma árvore no parque. Mais perto, súbito silêncio de todos. Algo como quando o chefe chega na mesa do cafezinho.

O app recomenda três patinadas para embalar.

Fiz isso e torci ao máximo o manete da aceleração, mas… Nada.

Pensei que fosse como moto. Nervosismo de usuário diante de algo que não sabe fazer. Todo mundo já atendeu alguém assim.

Olhos para os lados. Ninguém me nota. Então vejo uma palanquinha ao lado do manete. Acelerei e fui-me felizão.

Mas somente os primeiros metros.

O dito cujo não tem suspensão. Então em qualquer pedrinha a coluna resmunga. Até a tampinha que resolvi passar por cima. Dói. Lembra o carro dos Flintstones. Só que em pleno século XXI.

Pânico, um buraco. Freio. E isso é um pataço de cavalo no peito (nunca levei, mas imagino que deva doer). Ele para de súbito e rabeia, se contorcendo para os lados. Se tivesse alguém próximo era garantia de um roxo ou sangue escorrendo pela perna.

Mais: o guidão é estreito. Curto. A gente precisa se equilibrar com pouquí­ssimos recursos. Pense na sua bicicleta com guidão curto. Não é à toa que as pesadas Harleys tem os seus com uma amplitude formidável.

OK, miro o bicho na direção de casa e… Frustração.

Ele não sobe uma rampinha mixuruca. Embalo, acelero e nada. Ele banca a mula e diz que isso ele não faz.

Encerro o passeio. E vejo a cobrança: R$ 8,00!!! Carí­ssimo.

Minha esposa faz o triplo do trajeto sentada no ar condicionado de um Uber e paga R$ 5,00.

Conclusão

Talvez na Av. Paulista ele tenha seu valor. Primeiro por que o povo lá ganha bem. Segundo por que é uma planí­cie lisa (o mais importante: lisa). Aqui nos pampas, onde chove aos montes, será apenas uma diversão.

Cara.

Óbvio, com o preço da gasolina subindo do jeito que está (em POA, a comum sai por R$ 4,50), talvez o patinete seja-ele-de-que-cor torne-se economicamente viável.

Mas com as ruas e calçadas que temos, haha, vai ser brabo.

Do suporte técnico

Emputeci-me Enfureci-me com a cobrança. O passeio era para ser de graça.

E o cadastro era para ser reembolsado!

Dupla sacanagem.

Entro no app, seção ajuda e espero o chat. Mas encontro uma orientação: envie um e-mail para suporte@grin.com.

Um e-mail? Essa foi uma invenção da minha geração em 1980 para acabar com o fax. Estamos a 40 anos disso e eu preciso mandar e-mail?

Enviei. Na sexta. Passou sábado e domingo e nada de resposta. Quando será que o suporte acha que a turma anda de patinete? Somente durante a semana e em horário comercial?

Mando novamente.

Resposta imediata: eu tinha 15 dias para gozar do passeio grátis. Como me inscrevi dia 11 e viajei dia 29, passaram-se 18 dias.

Nem adiantou dizer que inseri o número do meu cartão de crédito somente no dia 26.

E mais: todos sabem que este prazo faz uso de um conceito chamado escassez. O mesmo de “últimos dias de IPI reduzido”, “último curso do Cohen no ano” e tal. Ele busca fazer com que o cliente utilize o patinete o mais rápido possí­vel.

Segunda réplica minha: “” Pelo amor de deus, vocês querem que eu passe a andar de Yellow?

Imediata resposta: “” Não se preocupe, o senhor será reembolsado de tudo. Continue sempre contando conosco“.

Quando a gente lida com oligopólios (Claro, Vivo, TAM, GOL) não adianta citar a concorrência. Mas com startups em busca de conquistar um mercado, sempre vale citar o competidor.

Avaliação

A resposta enviada pelo primeiro técnico estava correta. Sei lá se era um robô ou ser humano.

Mas não era adequada.

Vejam:

  • Primeira viagem de um usuário.
  • Ele tem quase “se senta” anos (ou seja, sua prioridade não é mais gastar dinheiro com faculdade, comprar carro, patrimônio, etc.).
  • É um bairro rico de Porto Alegre.
  • Faz sentido o que ele comenta, pois inseriu o cartão de crédito três dias antes do passeio.

Mas a resposta foi um copia-e-cola da base de conhecimento!

Isso é igual ao meu atendente da imobiliária que faz a cobrança de condomí­nios. Eu atrasei um mês, mandaram para cobrança via advogados.

Eu disse: “” Tá louco, eu esqueci isso. Por que não me enviaram um aviso? Tira esses honorários aí­ que pago hoje.

Resposta: “” Agora não dá mais, o jurí­dico foi envolvido.

Minha resposta: “” Bem, você tira ou eu abro um processo e ainda por cima faço uma reunião no prédio para trocar de imobiliária, pois se comporta de forma automática e sem inteligência.

Sim, a automação aumenta a produtividade. Acelera a rapidez do atendimento (não neste caso).

Mas… 

Abrazon

EL Cohen

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Olha lá, novamente aviso que as 9 vagas acabam rápido. Pro curso de abril, elas terminaram duas semanas antes.

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