Busca de produtividade – the dark side

Produtividade não é tudo e pior, esconde um lado negro pouco revelado

Hummm… Esse tema é um vespeiro, em especial quando envolve engenheiros (a rima é ordinária, mas gostei; afinal, Mansur é engenheiro).

Dia desses um amigo postou no seu blog o artigo  Quer garantir seu sucesso? Busque a produtividade de sua operação. Aquilo me deixou um tanto aperreado, mas eu andava mais enrolado que namoro de cobra ministrando treinamentos e deixei passar.

Porém, quando o lufa-lufa acalmou, abri minha mochila (de carteiro) e lá estava a revista que Ricardo Mansur me presenteou em pleno curso de gestão de suporte em São Paulo (esse cara é muito legal e generoso). E a capa referenciava a mesma coisa que o Baldin citara em seu artigo: “Por que somos tão improdutivos“.

Sem interrogação no final. Ou seja, uma afirmação. Detalhe que não me passou batido.

O que é ser improdutivo?

É, segundo o meu mais querido dicionário, o Houaiss, “aquele que não produz, infértil, que não dá resultado, que não rende“.

Tá, vou supor que é um sujeito que não produz tanto quanto poderia. Transporto essa situação para um ambiente corporativo qualquer, onde um funcionário em vez de usar um ERP que integre todos os dados da empresa, mantém uma planilha em Excel (ou Libre!!!) com a lista de pedidos, um sistema aplicativo com cadastro dos clientes, outro para emissão de nota fiscal etc.

Ou seja, se tudo estivesse no mesmo sistema, ele perderia menos tempo e faria mais.

Voilà, suponho que seja essa a definição corriqueira de produtividade: fazer mais com menos. A relação entre a quantidade de recursos investida versus o rendimento que se obtém.

OK, acho que todos devemos ser mais produtivos. Mas a que preço?

Da revista Exame

Eu não tenho bala na agulha para criticar a revista Exame. Tampouco o Baldin, Diretor de Inovação da Maior Empresa Privada de TI do Paraná (todas as palavras capitalizadas), nem o Ricardo Mansur, o Papa da Governança Corporativa de TI do Brasil, mas…

Não me custa pensar nalgumas coisinhas que estão por trás dos bastidores e ninguém vê ou comenta. O cupim dentro da madeira (detesto esse bichinho, vendi um apartamento por causa dele no passado), o fim do asfalto logo depois da curva. Sabe como é, tô com  Nelson Rodrigues que se ofendia profundamente quando diziam que dois e dois eram quatro.

A revista cita que os paí­ses que investiram em educação tem uma economia mais eficiente e, por isso, mais rica.

Ih, puxa… Não sei se é possí­vel venerar essa relação eterna entre “Educação x PIB“.

Eu fucei, procurei, mas não encontrei o artigo da Veja (ou Época?) em que um sujeito dizia que somos o sexto maior PIB do planeta. E estamos em 88 lugar no ranking de educação. Ora, meu Jesus Cristo dos Penúltimos Dias, se subirmos 50% nesse ranking educacional, onde irá pousar nosso PIB? Além do topo?!

Conclusão banal a que chego:

A relação Educação x PIB não é tão simples assim. Nem tão direta.

Tá, eu confesso: eu não consegui ler toda a matéria. Estou saindo de férias e “gastando meu tempo nas preliminares” (comprando protetor solar, livros, hidratante, remédios, saquinhos de paciência, remédios, boné), como dizemos por aí­. E daí­? O pior cego é aquele que anda sem bengala, haha.

Como se aumenta a produtividade?

Também não vejo como aumentar a produtividade com educação.

O modo mais comum é a automação. Um Jetson da vida tem uma produtividade magní­fica. Aperta botões e a fábrica se move ao seu controle. Isso sim é show. Trabalha três horas por dia e três dias por semana. Uau, puta baita produtividade.

Aliás, automação que é descendente direta da mecanização. Filhota essa lá dos tempos de Ford. Sujeito que detonou com as carruagens e forneceu os primeiros carros aos consumidores. Mérito.

A revista cita uma frase dele: “– Há uma única regra para um industrial: faça produtos com a melhor qualidade possí­vel, ao menor custo, pagando salários mais altos que puder“.

Hahahaha, a frase é do tempo dele, por que estaria totalmente desarticulada em nosso século XXI. Nem todo mundo busca vender a melhor qualidade possí­vel. E sim aquela que o cliente quer pagar (vai um hiphone?).  Menor custo? Vai comprar uma Ferrari ou bolsa Louis Vitton e pergunta se tem uma com “brecinho amigo”? Ou almoça no America da Paulista! E salários mais altos? As empresas ocidentais escoam sua produção da Ásia e América Latina por quê? Nem vou citar China.

Opa, quase deixo escapar: Chaplin já comentava o quão impactante era essa busca de produtividade no seu filme “Tempos Modernos”: produzia uma desmotivação gigantesca, além de outras desgraças.

Aliás, Cohen já registrava isso em 2010 no seu blog. Visite Taylorismo sobrevive em nossos Help Desks para saber mais.

Só que em ví­deo é mais agradável (e ironicamente engraçado) compreender Chaplin, espia só:

 Os EUA tem produtividade?

Certo, a Meca da eficiência são os EUA.

Uma perguntinha só: como eles apuram as eleições naquele paí­s? Via computador?

Yeah, sei que esse meu comentário só corrobora como nossos funcionários de tribunais eleitorais são produtivos – e como isso é bom – e como os da América do Norte não são.

Mas o que provoco é exatamente isso: pensar que são a Meca da eficiência quando ainda fazem o escrutí­nio eleitoral “à mão” (Mansur, usei “Meca” como forma elogiosa, segure os patrí­cios radicais).

Dan Pink

Na boa, queremos mais eficiência?

Alguém já viu o filme do Dan Pink sobre recompensas, efetividade, produtividade (e todo esse blá-blá-blá corporativo) e o que os profissionais mais gabaritados buscam?

Por último (pra sair de férias logo)

Existe uma grande diferença entre eficiência  (produtividade) e eficácia.

Uma vez perguntei a um sujeito que fabricava sacos plásticos para grãos (arroz, soja, feijão etc.):

– Por que manter aquelas mulheres fechando os sacos manualmente? Não tem algo mais esperto, eficiente e produtivo como uma máquina de fechar?

Ele respondeu que sim, mas custava bem mais caro que as mulheres e isso gerava um produto final mais caro. E?

Smack

EL CO
PS: Mansur, Baldin e colegas: não esperem respostas, I’m on vacations, hehehe.

 

6 comentários em “Busca de produtividade – the dark side”

  1. A ideia é a seguinte, pulando direto para a parte que você fala dos saquinhos: Automatizar aumenta a produtividade, mas produtividade automatizada só é boa se houver demanda para dar ganho de escala e prover retorno rápido ao investimento. Se não houver esta demanda, melhor ficar com as regras dos tempos modernos mesmo… parabéns por despertar esta reflexão na gente, ElCo. Boas férias!

  2. Boas férias. Fica uma lição de casa no retorno

    Sobre: “A relação Educação x PIB não é tão simples assim. Nem tão direta.”

    O trabalho “Gasto com a Política Social: Alavanca para o Crescimento com Distribuição de Renda” do IPEA apresenta os numeros da relação.

  3. AH ta, escreve um post enorme desse só para reduzir a culpa de ficar as férias inteiras sem postar nada !!

    Hehe…belo ponto de vista, faz pensar.

    Abraços e boa viagem!

    Ps: lembre-se do meu presente

  4. Muitos fatores que tornam uma empresa improdutiva está certamente na falta de projetos eficientes de seus gestores que teimam em “quebrar galhos” e tornar mais barato o resultado final. Na mioria das empresas não há essa visão ou boa prática para se inical projetos bem estudados e bem analizados. É como fazer um bolo com ingredientes de segunda qualidade. Certamente vai sair um bolo sem sabor, sem consistência, e sem ser atrativo para seus clientes ou para seus próprios funcionários visto que os mesmos se esforçarão para realizar e concretizar algo de baixa qualidade e irão gastar certamente seu potencial em projetos de segunda classe. Não é a toa que o PIB do Brasil fica a desejar se for colocado o parâmetro Educação = PIB. Com essa visão miope dos grandes empresários que não investem em projetos sérios e o governo que não niveste em educação eficiente com certeza esse casamento nunca se realizará. Basta ver o quanto somos tolhidos no serviço público para economizar e mesmo assim dar conta do recado. Depois dizem que o brasileiro trabalhador é culpado por isso e jogam a culpa na preguiça e na falta de
    estudos da grande maioria de seus funcionarios.

  5. Paulo,

    Nem sempre dá pra fazer um projeto como se gostaria que fosse. Aliás, raramente dá. Faltam recursos, tempo, o mercado globalizado pressiona, aparece outra urgência etc.

    Não sei se todos queremos um bolo “com sabor”. É como disse, a 25 de março abastece muita gente que não está interessada nem em serviços de primeira classe, tampouco de produtos desse padrão.

    É *oda gerenciar, hehehe.

    Abrazon

    EL Co

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