Os personagens da guerra do WikiLeaks

Artigo extraí­do do jornal Correio do Povo – domingo, 12/12/2010 – autoria de Jurandir Soares

A guerra que se estabeleceu pelo mundo e que envolve o site de notí­cias WikiLeaks se amplia cada vez mais, porém, está bem definida.

Senão vejamos: de um lado estão os contra: EUA, alvo dos vazamentos; Suécia, que pede a extradição de Julian Assange acusado de cometer crimes sexuais; Amazon, empresa americana que parou de hospedar o site; EveryDNS, outra empresa americana que suspendeu o serviço de domí­nio ao site; Pay Pal, site que cancelou conta aberta pelo WikiLeaks para arrecadar doações; Suiss PostFinance, banco suí­ço que suspendeu as contas de Assenge; Visa e Mastercard, empresas de cartão de crédito que suspenderam os pagamentos ao site.

Do outro lado, a favor de Assange, estão os cinco jornais que receberam os 250 mil documentos vazados, o americano The New York Times, o britânico The Guardian, o espanhol El Paí­s, o francês Le Monde e a revista alemã Der Spiegel. Todos publicaram editoriais, artigos ou ví­deos defendendo o sigilo das fontes. Estão também os hackers “Ativistas Virtuais” e “Anônimos”, que atacaram Visa, Mastercard, Promotoria sueca e Swiss PostFinance e que criaram mais de 500 espelhos, evitando que o WikiLeaks saia do ar.

Também a rede social Facebook, a qual afirmou que não vai cancelar a página de Assange. Somaram-se ainda alguns dirigentes mundiais, como o presidente Lula, que disse que o culpado não é quem divulgou, mas quem escreveu os telegramas; o primeiro-ministro russo, Vladimir Putin, que ironizou, ao declarar que o “Ocidente tem os seus próprios problemas com a democracia” e o governo da Austrália, paí­s de origem de Assange, que ofereceu apoio jurí­dico ao fundador do website e argumentou que a responsabilidade pelos vazamentos é dos Estados Unidos. Sobre o que, aliás, não resta dúvida.

A questão levantada pelos EUA, de que se trata de segurança, é de exclusiva responsabilidade do próprio EUA. Para culpar Assange, teriam que culpar também os cinco jornais que fizeram a divulgação. Que os americanos tenham ficado constrangidos com o que foi revelado, é problema deles. O fato é que a divulgação feita pelo WikiLeaks não se constitui em crime nenhum. Ironicamente, no entanto, o responsável pelo site está preso em Londres. Claro, a acusação é outra: crimes sexuais. Assédio e estupro. O que se parece muito com aquela situação em que o policial coloca droga no carro de uma pessoa quando quer incriminá-la.

O criminoso nessa questão toda é o soldado americano Bradley Manning que vazou as informações. Este fez um serviço de espionagem e não Assange, como quer fazer crer os EUA. E culpa é também de quem deveria supervisionar Manning. Até porque, se acusarem Assange de espionagem, terão que acusar também os cinco jornais que publicaram os documentos.

O certo é que Assange não fez espionagem, fez jornalismo. Menos mal que ele está preso na Grã-Bretanha onde as leis são cumpridas. E onde dificilmente será aceito o pedido de extradição feito pela Suécia. E de onde ele pode apelar à Corte Europeia dos Direitos Humanos, onde são grandes suas chances de reverter um pedido de extradição ou mesmo uma sentença desfavorável na Suécia.

E, por último, cabe ressaltar que fica ridí­culo para os EUA o fato de seu governo estar tentando caçar Assange. Afinal, trata-se do paí­s onde mais é preservada a liberdade de expressão. Direitos de ir e vir, de votar e ser votado e de expressar livremente o seu pensamento são defendidos pela Constituição e preservados pela tradição republicana do paí­s. Isto não está sendo levado em conta.

JURANDIR SOARES | j.soares@cpovo.net

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