Livro em formato de novela explica gestão de TI e ITIL

Livro publicado pelo SENAC DF tenta explicar ITIL 3 através de método inovador: uma história

Há algum tempo atrás – agosto desse ano – encontrei o Maurí­cio Machado da Nextel no happy-hour (que foi muito mais do que happy e muito mais do que uma hora) da lista ITSMF-br.

Entre outros assuntos, ele citou um livro que explicava o uso de ITIL através de história.

Eu achei fantástica a ideia. Tem seus encantos.

O livro é o T.I. Mudar e Inovar.

Pena que não funciona.

Ao encontro

Sexta-feira passada – 5/11 – aguardava meu embarque no aeroporto internacional (por que o Rio Grande do Sul é outro paí­s) Salgado Filho. E fuçando na revistaria, plaft!

Dou de cara com o referido livro. Fiquei entusiasmado e agradeci ao destino tamanha generosidade (uma maior ainda viria quando o Grêmio ganhou de 5×1 do Ceará no domingo).

Só fiquei chateado com o preço: R$ 85,00. Mas são essas coisas de situação. E para não ficar uma hora e meia caraminholando ideias na poltrona do avião, comprei (aliás, qualquer argumento seria bom para justificar meu desejo de compra, hehe). Esses caras sabem vender por impulso.

Dos comentários

O livro foi escrito por Marcelo Gaspar, Thierry Gomez e Zailton Miranda.

Excepcional a ideia do trio. Está em voga literatura que estimula o conceito de convencer ou ensinar aos outros através de histórias. E aliás, sempre foi. Quem não gostava daquele professor que nos divertia com seus contos?

De maneira mais moderna, quem não aprende com Pap’Albano quando o mesmo cita a fábula do  mecânico e outras tantas que tira de sua mente bem preparada?

O livro tem mais de 300 páginas. E é chique. Colorido, papel de alta qualidade. Talvez por isso o precinho mais salgado (pra mim que sou pobre).

Desalento

Mas se a ideia é boa, a implementação da mesma não tem o sucesso esperado.

Falta talento literário para os autores. Escrever uma narrativa de qualidade não é algo simples. Exige algum preparo. Algum conhecimento. Exemplos baseados na obra:

  • A narrativa explora os problemas do Sr. Jorge e entremeia seus conflitos com lições de ITIL. Concepção boa, mas cada vez que o ITIL é apresentado parece que estávamos sentados numa beira de praia e então… passa um caminhão e faz um corte abrupto. A gente fica atordoada procurando entender o que aconteceu.
  • Seu Jorge aceita e muda de ideia muito rapidamente. Sempre de maneira positiva para o ITIL 3. Não há contestação, reflexão, nem nada. Ora, ninguém é assim. Salvo o cachorro da minha mãe que se jogar laranja, ele come. Se jogar jornal, idem. Mas o livre arbí­trio não é exercido pelo seu Jorge e isso gera uma desconfiança de que ele possa ser uma “Maria vai com as outras”.
  • Falta estilo no texto. Na página 55 eu contei 12 vezes a citação do nome Jorge. E na seguinte, mais 10. Isso desarma o tesão do leitor. Falta argúcia e preparo para lidar de maneira criativa com a situação.
  • Outro exemplo de falta de consistência de estilo: em certa parte encontramos frases formais como “processos tornar-se-ão” e noutro trecho, “que peixes têm lá“. Ora, os peixes não tem nada. Eles existem por lá. Ou o local tem peixes. A expressão em uso é uma corruptela de nosso linguajar cotidiano.
  • Os personagens são a todo o momento citados pelo vocativo “Senhor”. Puxa, já estamos í­ntimos da vida do sujeito. Já nos identificamos com seus conflitos, os problemas caseiros e… Segue o barco chamando o sujeito de “senhor”? Ele é quase meu irmão a essa altura.
  • Porém, chamar aos outros de Sr. denota algum estilo de educação. De respeito. De hierarquia. Se eu explorar minhas inferências e os agradecimentos iniciais (todos os três não poupam gratidão a Deus), diria que são evangélicos ou católicos. Tem mais, “os filhos do senhor Jorge são lindos”, “Graças a Deus”, “Abra seu coração” são expressões insistentes. Nem vou pesquisar os autores, pois então estragaria minha sensibilidade intelectual ao me deparar com um “não”, hehe.
  • O leitor é afogado em teoria e siglas ITIL. Isso colabora na perda do ritmo da narrativa (é uma novela, pois acompanhamos apenas as peripécias do personagem principal). Eu estou na página 59 e já quero desistir, tal a quantidade de interrupções na vida do Jorge.

Opa, mas tem coisas boas

O livro é uma experiência de alto risco. De sair da mesmice dos livros técnicos sempre organizados em divisões em capí­tulos e resumos ao final. E coragem ao buscar escrever uma história. Não deu certo, a meu ver. Porém, abre espaço para que outros venham a tentar e alcançar êxito. Graças aos desbravadores citados.

Segundo, é o único livro da versão 3 em português que eu tenho conhecimento. Quem espera as traduções da V3 há mais de 4 anos pelo itSMF-br, tem aqui uma excelente alternativa para leitura. E de inhapa, vem com comentários, contextualizado no Brasil e uma história de brinde.

Finalmente

Escrever um livro é phoda extenuante. A três mãos, deve ser pior ainda.

Minhas crí­ticas voltam-se quase todas ao aspecto literário. Área em que o livro claramente fracassa.

Por outro lado, nossa comunidade é desoladamente pobre em literatura nacional. Contextualizado em nosso paí­s, o livro oferece intrinsecamente – por que escrita por gente daqui – uma visão brasileira. Ele alimenta nossa sede de conhecimento.

Eu recomendaria firmemente a obra como livro técnico. Por que tem alta qualidade nesse aspecto. E acabamento gráfico superior a muitas obras concorrentes, o que sempre gera um tesão pela leitura e propriedade.

😉

Compre e confirme.

Abraços

EL Cohen, ainda em Sampa, mas breve em Porto Alegre

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