Sistemas de cotas na universidade pública

Oié…

Há alguns dias saiu o resultado do vestibular na UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul). E nele, a pendenga conseqí¼ente da implementação do sistema de cotas. Gente com nota final superior aos cotistas ficou fora em função da reserva de cotas. A princí­pio, esse assunto me aborreceu bastante.

Mas ontem li o artigo do Juremir Machado da Silva no Correio do Povo. E já começo a pensar diferente:


24 de janeiro de 2008
Juremir Machado da Silva

O paradoxo das cotas

Jamais alguém duvidou da originalidade brasileira. Não me canso de repetir isso. É o meu lado original. Os gaúchos são brasileiros (embora com algumas ressalvas e um pouco menos de flexibilidade na cintura). Logo, os gaúchos são originais. Porto Alegre, por exemplo, tem o mais belo pôr-do-sol do mundo. Falta apenas convencer o mundo dessa originalidade. Ou ser mais preciso: Porto Alegre tem o mais belo pôr-do-sol do mundo sobre o Guaí­ba. Prefiro esta última formulação. É muito mais original. Agora, num assunto muito sério, as cotas nas universidades, também estamos querendo ser originais. Ou malandros. Como qualquer um sabe, o sistema de cotas reserva vagas em universidades públicas para indiví­duos de grupos sociais historicamente prejudicados.

Optou-se por reservar vagas por critérios étnicos e para estudantes oriundos de escolas públicas. Depois do vestibular da Ufrgs, porém, muitos estudantes resolveram entrar na Justiça por terem ficado de fora mesmo alcançando í­ndices de rendimento mais altos do que aqueles obtidos por cotistas selecionados.

Parece até piada de português. Esse é o princí­pio mesmo das cotas.

Com í­ndices superiores aos dos concorrentes, ninguém precisaria de reserva de vagas. Elementar. Trocando em miúdos, os defensores do mérito acima de tudo estão, mais uma vez, tentando melar o sistema de cotas.

Mas ele é necessário. Basta dar um passeio nas universidades gaúchas para ver que nelas praticamente não há negros.

A questão das cotas para estudantes oriundos de escolas públicas poderia ser vista até como mais injusta. A escola pública é deficiente porque os governos não lhes dão as condições de serem muito boas. Então se deve garantir ao seu egresso a possibilidade de chegar à universidade mesmo sendo pior. É uma forma de absolver os governos da incompetência e do desinteresse pela educação básica. Em vez de se elevar o ní­vel das escolas públicas, diminui-se o ní­vel de exigência na entrada para o ensino superior.

Claro que as cotas étnicas também expressam a incompetência dos governos em resolver problemas sociais históricos. Mas, ao mesmo tempo, elas permitem enfrentar o racismo dissimulado da cultura brasileira e começar a pagar uma dí­vida secular e vergonhosa. Não há outro jeito. Sem cotas, os negros continuarão excluí­dos.

Há uma forma muito simples de se eliminar a necessidade de cotas: garantia de vagas em universidades para todos os estudantes que forem aprovados num exame de saí­da do ensino médio. Na França é assim. Pode-se fazer isso com ensino público e gratuito para todo mundo ou com um sistema misto como o nosso, concedendo-se bolsas em instituições privadas para o excedente das públicas.

A limitação de vagas, a serem disputadas em vestibular, não é o sistema do mérito, mas o sistema da hipocrisia. A sociedade brasileira, em lugar de criar condições para que todos os seus jovens cursem uma universidade, algo que custa caro, manda que eles se engalfinhem e decidam na base de uma competição falsamente meritória. Quem perde é o paí­s. A sociedade lava as mãos bem sujas.

Somos originais. Queremos sempre o caminho mais longo. Ele nos parece tão curto. É mais interessante do que pagar a conta da educação completa de todos os nossos jovens.

Não há mérito algum em vencer um candidato que nunca teve condições de preparar-se para a competição.

3 comentários em “Sistemas de cotas na universidade pública”

  1. O artigo do Juremir Machado da Silva esta de parabéns!
    Os brancos e de quem estudou em escolas particulares (que tem como objetivo preparar para a faculdade), já tem esse previlégio, tudo bem sou branca, mas sempre estudei em escola pública, e o objetivo do governo para as escolas públicas é outro, “preparar o aluno para a ‘vida’ “. Ainda bem que algumas universidades federais importantes de boa qualidade adota o sistema de cotas, por que se não, o país mergulharia numa profundo miséria! e consequencia disso os negros, e nós de escola pública, íamos juntos. -.-‘

    =)  Ótimo Post!

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